Pausa para o café: afinal, tomar o popular cafezinho faz bem ou mal à saúde?
O café ocupa a segunda posição no ranking das bebidas mais consumidas em todo o mundo, perdendo somente para a água. Segundo o Conselho Nacional de Café, 97% dos brasileiros com mais de 15 anos consomem café todos os dias. Na média, o consumo atinge espantosos 80 litros per capita por ano aqui no Brasil.
Durante muito tempo, pensou-se que o consumo de café levaria a efeitos danosos sobre a saúde cardiovascular, causando pressão alta e arritmias cardíacas. No entanto, muitos destes estudos foram realizados com cápsulas de cafeína pura ou com grandes doses de café (até cinco xícaras grandes) de uma só vez; outros apresentavam graves falhas metodológicas.
Outro aspecto relevante diz respeito ao consumo eventual versus consumo habitual de café. Estudos mostram que, a partir do momento em que uma pessoa incorpora o café à sua vida diária, os efeitos indesejáveis de aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial desaparecem.
Em relação ao perfil lipídico, alguns estudos mostraram que a cafeína pode realmente elevar discretamente o LDL-colesterol, o chamado “colesterol ruim”, o que seria o efeito de alguns componentes gordurosos presentes no grão do café. Porém, essa “gordura” é parcialmente removida pela própria água quente assim como pelo filtro utilizado no preparo, atenuando esse dissabor. Por outro lado, também há o aumento dos níveis de HDL-colesterol, o “colesterol bom”, devido à presença de anti-oxidantes no café. Ainda mais interessante, há indícios de que o consumo de café combate a resistência à insulina, reduzindo a incidência do diabetes tipo II. Já se sabe que para cada copo de café (100-150 ml) ingerido de forma regular, existe uma redução de 7% no aparecimento do tão temido diabetes.
Um grande estudo epidemiológico publicado em 2013 na mais conceituada revista médica, New England Journal of Medicine, incluindo mais de 400 mil pessoas, mostrou que o consumo regular de café esteve associado à menor mortalidade geral, menor mortalidade cardiovascular, menor mortalidade relacionada ao diabetes e menor mortalidade por causas externas. Esse tipo de estudo observacional sugere, enfim, uma associação entre café e menor mortalidade, embora não comprove a relação de causa e efeito. Estudos mais consistentes do ponto de vista metodológico estão em andamento justamente na tentativa de comprovar os mecanismos protetores do café. Muitos desses resultados podem se dar em virtude dos já citados efeitos anti-oxidantes do café.
Estas propriedades já foram demonstradas em pesquisa realizada na Unidade de Pesquisa Café e Coração, do Instituto do Coração, em São Paulo. Neste estudo, os voluntários tomavam 450ml de café por dia, em dois períodos mensais, sendo que, em cada um deles, variava a intensidade da torra do café (média ou escura). Em ambas as fases, os voluntários foram submetidos a exames cardiológicos variados e sofisticados. As análises sanguíneas revelaram maior atividade antioxidante nos consumidores de café, independentemente do tipo de torra. Durante a realização do teste de esforço, os consumidores regulares de café apresentaram melhor performance física. E melhor, esse resultado se estendeu aos portadores de doença coronária que, além disso, não apresentaram qualquer evento cardíaco adverso, como angina ou arritmias.
Portanto, na contramão de estudos antigos, o consumo moderado e habitual de café é seguro, e pode fazer parte de um estilo de vida saudável, ao lado da alimentação equilibrada e da prática regular de exercícios. E qual seria a quantidade considerada segura? Crianças também podem se beneficiar do consumo regular de café? A resposta é um sonoro sim. Estudos feitos em crianças em idade escolar que não dispensam uma xícara de café pela manhã já comprovaram melhora na concentração e no desempenho escolar. A recomendação seria em torno de 3-5 xícaras de café filtrado ao dia (máximo de 500-600 ml) num adulto numa faixa etária entre 20-60 anos, e de 150 ml na idade escolar. Em crianças e adolescentes, deve ser consumido preferencialmente com leite, devido às maiores necessidades de cálcio na dieta.
Em vista de tantas evidências favoráveis à saúde atreladas ao consumo de café, deixa eu dar um pulo na cafeteria mais próxima. Ótimo pretexto para um encontro com as amigas, afinal bons sentimentos também fazem bem ao coração.
Drª. Maria Fernanda